Páginas

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Primeira prova aqui - Segunda etapa ESNAM

Pouco antes da audição, depois de ter ido à Villa (onde estou hospedada) cansada de ouvir as conversas e as caretas sobre as provas – um francês que eu não fazia questão de entender, mas que entendia um pouco – voltando para o Instituto conheci um brasileiro e uma brasileira, e mais uma que fala o português, apesar de ser daqui. Ele, mineiro típico, o sotaque não nega - Evandro. Está já morando em Charleville há anos, trabalhando com bonecos. A outra, paulista que veio para as provas, moça pequenina e tímida - Taís, e a outra, esposa daquele - Violenne. Todos fazendo as provas.

Deram-me força, vai lá, vai nessa!

Todo clima levava à tensão. Uma hora antes do horário, fui chamada para uma sala grande de carpete marfim para me preparar e, dentre milhares de objetos, escolher um ou alguns para apresentar logo depois, em uma improvisação livre.

O tempo de audição para tudo (3 cenas, entrevista, leitura de uma análise crítica e de um texto em francês): 20 minutos. Parecia mentira... e eu com minha cena de Dona Bil com seus 10 minutos contados.

Como eu não queria abrir mão desta cena, reduzi Palitolina (cena do casaco, mas com a Elza Soares maravilhosa cantando) e fiz uma cena bem pequena de objetos, com duas colheres e um batedor de ovos. Uma cena muito simples, mas sinceramente, não queria gastar muito tempo nisso. Estava nervosa, queria sentar e me acalmar – sabia que se não fosse assim seria uma tremedeira manipular bonecos tão pequenos.

Outro agravante é que todos saíam contando que o júri dizia merci e sua cena acabava ali. Todos que me contaram de sua audição de hoje disseram que cortaram suas cenas antes de acabarem e estas eram mais curtas que a minha. E se minha cena acabasse antes, sequer eu poderia mostrar Dona Bil...

Enfim, preparei tudo e fui me acalmar. Sentada no tapete, fiz de mim uma massa pequenina e fiquei lá, lembrando da viagem pelo Brasil, recordando o porquê de estar aqui. Assim o coração foi desacelerando, e em frente à porta de acesso ao teatro, uns 40 minutos depois, tinha-me calma.

A moça que falou português quando cheguei -Perrine - foi minha intérprete, me ajudava quando eu não entendia ou quando eu fazia-me confusa. Foi mais do que essencial nesta pequena jornada de 20 minutos.

Comecei apresentando a cena da Dona Bil – em francês – e ninguém me cortou, o que para mim foi um alívio. Pediram-me para ver os bonecos, e mostrei 3 deles. Ouvi expressões positivas enquanto trocava minha roupa para Palitolina. Na cena de palhaça, olhares atentos com leves sorrisos nos lábios, e a improvisação com colheres depois. Como os textos eram opcionais para o júri, não pediram. Depois uma conversa, o quê faz, como faz, por que, coisas do tipo. Um senhor-perguntador que depois descobri ser o coordenador pedagógico perguntou-me até sobre como eu ficaria aqui, pergunta seguida de riso do colega ao lado, um careca. Trabalhando, sim.

Havia um senhor especial, que não me perguntou nada, mas que olhava-me com ternura durante todo o tempo. Deu-me força, em seu silêncio gentil.

Nas perguntas, como não poderia deixar de ser, me emocionei. É assim, tem gente que, nervoso, grita, tem gente que treme, tem gente que tem tique... eu, ás vezes, vacilo chorar. Não chorei, mas me emocionei, sim, falando do meu trabalho.

Enfim, foi isso. Saí de lá aliviada, porque é um alívio fazer finalmente o que se pensa tanto tempo, carregando para realidade um sonho distante.

Fui a última da noite, e depois disso fui com os brasileiros e mais algumas pessoas para o bar da portuguesa – aquela, Sofia – em frente ao rio. Conversamos, nos entretemos, bebi dois goles de algo típico e já não entendia mais nada do francês. Foi bom, e engraçado!

O resultado sai amanhã à noite, depois das últimas audições e do júri se reunir. É aguardar.

P.S.- quase ia me esquecendo do senhor do silêncio gentil... Ele procurou “minha tradutora” depois das provas, e pediu para me dar um recado. Disse que meu trabalho é muito bonito, e que eu não preciso me emocionar tanto – que preciso realmente acreditar nele (no trabalho) porque é rico e especial. Perguntei a ela quem ele era, e disse que é um senhor muito importante no ramo das marionetes, que é de Israel e que deve trabalhar neste ano no Instituto, que está sempre próximo da ESNAM. Ainda que não fosse “muito importante no ramo”, foi bom saber disso, apesar de que acho que nunca irei realmente levar a sério tal afirmação...

P.S.2- os professores do Instituto mudam todos os anos, assim como a grade de matérias. A depender dos professores a grade é traçada, sendo cada ano (na verdade, 4 em 4 anos) focos de pesquisa diferentes – a variar pelas especialidades dos que ministram as aulas e pela turma, em si. Achei beem interessante! Os diretores também mudam. Parece-me que só o senhor-perguntador que não.. hehe

Nenhum comentário:

Postar um comentário