Veio Sofia, falando português de Portugal, aliviando minha cabeça de tradução torpe.
Trouxe-me as chaves, simpática mostrou-me o caminho. É ali, e tenho um bar aqui, pertinho! Preciso dormir, disse a ela, e nada mais verdadeiro. Foi-se, e eu fiquei no apartamento de Mickael.
Mickael é amigo da Fernanda, a que falei do Meme. Foi ela quem me indicou e ele quem apareceu no meu facebook, falando português brasileiro, tudo bem, é você quem vem? Sim, sou eu.
Conversamos, ele é viajante também, fala de segredos do mundo que só vemos a andar sobre caminhos de pedregulhos. Inteligente, e fizemos amizade logo nas primeiras conversas. Esteve no Brasil, três meses foram. Ama o Brasil, foi o que disse a Fê.
Numa das conversas, Mickael, sabes onde encontro por aí um hostel barato para ficar? Ora, fica aqui em casa! Que dias vai ser? Devo chegar dia 08, dia 11 tenho hospedagem no Instituto. Não estarei, vou para o Nepal, mas deixo-lhe as chaves. Como assim?
Sem me conhecer, deixou-me as chaves de seu apartamento. Eu perguntei, mas.. é sério? Como? Perguntou-me é clown (palhaça), não é? Disse sou. Então está feito.
Tudo fez sentido quando entrei no apartamento dele. Há pessoas que não acreditam em energias, eu não sou uma delas. Acho que, como disse o poeta, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que deduz a nossa vã filosofia! E respeito esse não-sei-o-quê que nos rege.
Entrei e tudo aqui tem sentimento, tem leveza, tem presente, tem vida sem peso de posse. Tudo aqui conta-me histórias. Em cada canto um pedaço de mundo, e uma bandeira do Brasil com tanga a me recepcionar em frente à porta.
Na estante, livros sobre desenho, Astrologia, literatura. Na parede, figuras planas do que creio ser de teatro de sombras da Tailândia, junto a um boneco que ri de meu olhar curioso, com sua pele alaranjada a fazer pose.
No topo da porta, uma foto de uma senhora sorridente a apagar vela em bolo. Mãe? Irmã? Alguém especial, vê-se logo!
Primeira coisa que fiz foi ficar descalça, um cuidado que tenho. Parece respeito, o descalço em chão alheio. E os pés a gritar de alívio, e uma massagem sem tempo de fim nos dedos apertados.
Banheiro, peguei meu saco de dormir e deitei-me no sofá da sala. Um ai subiu meu corpo, ai de quem agradece o estar. Dormi algumas horas, e agora tenho-me acordada a escrever estas linhas.
Lá fora, escureceu para além das 9 horas da noite. Agora é quase meia-noite, e o relógio do computador diz que no Brasil são 17 horas, recém. Quis falar com minha família, Expinho, minha mãe, estou bem. Mas não consegui. Quis compartilhar histórias, mas tenho-me só com as lembranças de alguém que não conheço a habitarem a casa.
Evito sair, e pela janela enxergo o rio em frente dançando cantigas de ninar. A árvore levemente seca esconde suas cores na escuridão. O silêncio convida-me novamente a dormir, e a acordar cedo amanhã para enviar notícias. Mas meu relógio interno não permite. O tempo, um frio leve, a acariciar-me a face. Sinto saudades de muita gente já, de trocar. Afora Sofia, não consegui conversar mais de duas linhas com ninguém.
(Sofia contou-me que aqui de outubro a fevereiro não há sol, os dias são escuros. Como viver sem sol, como?)
Geni amada, você É um sol que brilha.
ResponderExcluirAbençoada-menina!
Estamos aqui, mandando ondas positivas.
Boa noite nina...
Beth
Como viver sem sol? Este tem de ser buscado dentro por estas plagas. Somos bichinhos tropicais.... Mas use roupas coloridas, desenhe um sol bem grande, use lâmpadas amarelas... Qualquer coisa assim. Mas não se esqueça do solzão que vc tem ai dentro do peito.
ResponderExcluirAbraços
Doris
Minha querida
ResponderExcluirTudo na vida requer um tempo
Aos poucos tua alma se adapta e aceita as diferenças.Sem pressa, com segurança e com certeza que teu caminho será traçado
conforme tua vontade.Siga teu coração que teu futuro será brilhante!!!!
Te amamos e estaremos sempre contigo.Ruth.