Começou assim...

Da Universidade de Charleville eu já tinha ouvido falar. Que é referência mundial de marionetes (bonecos), que é ótima, que é uma Universidade de Marionetes, não uma com um curso de marionetes. Danada! Mas disso tudo eu já sabia.

Em dezembro, fui apresentar junto aos amigos do Só Rindo Teatro de Bonecos em Canela/RS e eles me falaram. Vai abrir o curso, que só abre de 4 em 4 anos. Inscrições abertas, já. Vai lá, tem tudo a ver. Aproveita que ainda é jovem.

Isso martelou em mim por um longo período! Comentei com um e outro, mas ficou por isso. Maravilhoso, mas é na França. Maravilhoso, mas é longe e caro. Maravilhoso, mas é só um teste, não garante nada. Concorrência mundial. É um chute muito alto no escuro, e nem tenho como ir. Ficou por isso.

Em paralelo, em dezembro comentou meu irmão mais velho, o Guto: o pai, tá vindo. Vem passar as festas em Santa Maria.

Não via o meu pai há uns 13 anos. E acho que não nos falávamos há uns 10 anos. Ele mora em Tocantins, tem outros filhos, a vida e nossas escolhas fizeram com que nossos caminhos se separassem. Achei que era ferida passada, dizia "tenho pai na mãe, está bem, é o que é". Mas não, ele reapareceu aqui.

O Guto foi passar a virada de ano com este lado da família que é quase desconhecido para mim. Embora não guardava mágoa, não nego que guardava falta, doída e profunda.

No dia primeiro de janeiro fui vê-lo, passar dois dias com ele, a atual esposa, o filho e os tios distantes. Queria sentir como seria isso em mim - fui vê-lo em Santa Maria para conhecê-lo um pouco. Que estranho que foi! E dali a pouco estávamos os dois em uma estação férrea abandonada, conversando sobre este tempo longe, conversando sobre o pai que não foi, sobre o tempo, enfim. E imagem engraçada que surgiu, tudo dito e nada escondido, e estavam os dois abraçados a chorar na estação antiga. Querendo recomeçar uma relação de pai e filha daqui, porque o antes se foi, e não há mais remédio. Mas querendo um futuro menos distante e menos doído com a distância.

E eis que, falando de tudo, das vidas que temos e que queremos ter, houve a conversa da Universidade de Charleville, assim como tantos outros papos. E a frase dele: "quero ajudar". E eu dizendo não, e não, e não, não foi para isso que vim. E ele dizendo eu sei, mas eu posso, e eu quero, vi o brilho nos teus olhos quando falou. E daí, passagens de ida e volta para França, em abril, para fazer as provas.

Depois de compradas as passagens, na correria de passaporte e seguro-saúde obrigatório e tudo o mais, entrou um e-mail na minha caixa de entrada. Um inesperado “sério?” rompeu minha mente. Era um convite para integrar a programação oficial do XII FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO Y ARTES DE CALLE DE VALLADOLID, na Espanha. Mandei material há uns 3 anos e agora ela entra em contato, junto à uma indicação que as criadoras do Teatro Lambe-Lambe fizeram de mim: Denise e Ismine, pessoas queridas. Quando? Em maio, 20 dias depois do bilhete de retorno ao Brasil. Se vocês me ajudarem, fico aí... tenho a Viliane, melhor amiga de infância, ela está na Itália. O quê acha, moça da Espanha? O quê acha, moça da Itália? Troque sua passagem, venha para cá. E assim, mais um mês de Europa!

No Festival da Argentina que participei ano passado, duas amigas gregas. Venha para cá, conhecer Atenas!

Então as coisas aconteceram assim, por algo que não se explica. Coincidências, para quem acredita nisso. Sorte, para quem acha. Eu prefiro chamar de... conspiração? Força mental? Querer muito? Nem sei, mas respeito, seja lá o quê for isso.