Saí após um dia e meio “hibernando” na casa da Vili. Não sinto muita vontade de sair aqui porque não consigo conversar com as pessoas, não sabendo, eu, a língua. Ainda pelo frio constante – que para os daqui não é frio, mas para mim é - e querendo economizar, acabo preferindo me aconchegar em casa. Quem diria que eu diria isso?
Hoje saí. E finalmente consegui comprar um adaptador para recarregar as pilhas e conseguir apresentar o Mundo Miúdo na rua. Por mímica a moça me entendeu, e comprei sem maiores dificuldades.
(Já disse que está frio?)
A forma de se comunicarem aqui, de maneira geral, me pareceu bem estranha. É um tanto rude, à primeira vista. De modo geral, claro que não sempre. Também pudera, dizem oi e tchau com a mesma saudação de adeus...
Tenho saudades.
E segue o frio.
Minha cabeça tem doído um pouco, creio que tenho pensado demais, acordada e em sonhos, sobre a minha vida vendo-a assim na distância (... veio uma moça pedir-me informação. Falei que não sabia em um idioma inventado, acho que pareci aqueles personagens que se dizem italianos nas novelas das 8 do Brasil. A moça riu e seguiu em frente, carregando ainda sua dúvida). Então tenho pensado bastante sobre o ser e não ser, eis a questão.
Nos dias anteriores a Vili me mostrou um pouco da cidade. Milão é grande! Fomos a uma igreja linda no centro com esculturas delicadíssimas, onde tudo era diferente de tudo. Na porta, pessoas tocando no joelho de uma imagem – é assim, tu toca e faz um pedido, disse a Vili. Mas tocam bem na perna do homem que dá uma surra em Jesus? Estranho. Alguém sabe explicar isso, ou é coisa que definitivamente não se explica, só se crê?
Andamos também no centro amontoado de gente de todos os lugares do mundo. Diversidade, que beleza! E nos tempos extras jogamos cartas, tomamos chimarrão e curtimos cozinhar e comer na varanda, no sol lindo que às vezes espia.
Hoje, assim como ontem, a Vili tem aula o dia todo. Comi massa pelo 22º dia e tenho saudades do feijão, sobretudo do da minha mãe. (Que frio que está!)
Trouxe na minha bolsa agora instrumentos para buscar comunicações sem fala, como um boneco e a pequenina máquina fotográfica que o Evandro me deu (e que foi o presente mais amado que eu poderia ganhar deles). Olho em volta buscando gente e sinto que, do céu, alguns pingos começam a se jogar na distância. Está nuvem o cinza; está cinza a nuvem.
E frio.
E mais choro do céu.
(Volto para casa acelerada.)