Milão / Itália, 12 de maio de 2011
Era assim, cheio de fiapos. Vivia atrás dela, a dormir na novela das seis em colo quente de mãe com mão no chimarrão outra nele.
Era pêlo pelo pêlo. Novo, 2 anos de manhas, fuzarcas, pulos pela casa, começão de alfaces, ocupação de caixas, gatices. Morreu ontem, de olhos abertos – disse ela. Nem deu tempo de acudir. Nem deu tempo de despedir. Só deu tempo de chorar.
Minha mãe morreu um bocadinho com ele, ontem. Dessas mortes camufladas que fecham portas na gente. Por coisas que não entendemos, que se fecham rápido demais.
Foi-se.
E mãe apareceu prendendo choro na tela azul. Não precisava, ele novinho assim?
Mãe dizia que os filhos, os três, iam para o mundo. É assim, filho não é nosso, é do mundo grande. Ele ia ficar com ela, companhia certa. E foi ele que foi, né, mãe? O peludo.
Eu aqui devolvi a ração italiana de lata bonita no mercado. E fiquei triste com a tristeza de mãe. Escondeu bem, mas sei que está chorosa. Dá para ver na voz, na aura azul de quem sofre no escuro.
Quis estar mais perto, quis abraçar. Pra quê serve um mundo gigante e tecnológico quando o que se quer trocar é afeto só, primórdio de nascimento? Pra quê serve andar tanto quando só se quer ficar parado, frente à pessoa mais importante de nossa vida, e abraçar em silêncio?
Sentiremos falta do Duda, e da alegria de mãe com ele.
Que fiquem bem, que fiquem bem!
Logo eu regresso para abraçar.
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